A maratonista cervejeira

Paulo Vieira

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Publiquei recentemente uma série de posts sobre a Mara de São Paulo, de que participei. Primeiro, sobre o fetiche que é a maratona, qualquer maratona.

Ter a conclusão dos 42,2K como meu grande espólio quando o outono chegar não será exatamente motivo de orgulho, daí o fetiche. Não é isso que pretendo legar para a posteridade.

Mas como não sou Brás Cubas, tive filhos, duas filhas para ser preciso, e elas testemunharam, no Ibirapuera, o final da prova.

E foi lindo.

(E ao fim da Mara de SP eu estava bem longe de apresentar uma condição miserável. Para bom entendedor…)

Minhas filhas não vão me ver na Mara do Rio, neste domingo, prova de que participei duas vezes, mas só na meia distância e dopado de gengibre. Mas quem sabe nos 42K dos Bosques de Belgrano, Buenos Aires,  em outubro?

Perguntarei a Fessô SX, meu treinador acidental, homem de convicções firmes e inamovíveis, se ele me aceita novamente como pupilo.

Bem, agora que você já navegou por esses hiperlinks e voltou para cá, comecemos logo este post. Que não é sobre mim, mas sobre uma maratonista de verdade.

Ela é chilena e tem 39 anos. Erika Olivera competiu sábado passado na Maratona do Pan de Toronto. Assim como a brasileira Adriana da Silva, perfilada no livro do dr. Drauzio, ela já conseguiu a medalha de ouro no Pan.

Erika na Olimpíada de Londres/Foto: Miho/Wiki Commons
Erika na Olimpíada de Londres/Foto: Miho/Wiki Commons

 

Adriana era a última campeã, e uma das favoritas, pois havia vencido em Guadalajara, em 2011. No sábado, em Toronto, ficou com a prata; já Erika venceu em Winnipeg, também no Canadá, no longínquo Pan de 1999.

Não achava que poderia vencer em Toronto, mas queria fazer índice para os Jogos do Rio, ano que vem.

Precisava de 2:42, mas ficou quase 10 minutos aquém da marca. Ainda deve tentar o índice em outros torneios.

Seu melhor resultado olímpico foi em Sydney, em 2000, quando chegou em 27º lugar.

O JQC gosta dessa chilena opinativa por sua sinceridade. Ganhadora da Maratona de Santiago de 2011, ela disse que só voltaria a correr na sua cidade – nasceu em Puente Alto e cresceu em Recoleta – “por la plata”.

Ou, como havia dito Frank Zappa, “we’re only in it for the money”.

Há alguns anos, ela vem manifestando  sua vontade de disputar uma cadeira no parlamento chileno. “Muitos me perguntam por que ingressar na política, onde tudo é tão sujo, mas não acho que seja assim”, disse ao jornal La Tercera.  Ela quer se eleger já em 2017, ano que deve deixar o cascalho.

Além disso, ela tem um método infalível para acabar com a ansiedade e a insônia às vésperas de uma prova. Não é fazer aquilo que você está pensando, algo que, pleno terceiro milênio, ainda divide opiniões.

Ela prefere tomar uma lata de cerveja. Ao repórter José Ricardo Leite, enviado especial do UOL a Toronto, ela disse o seguinte:

“Não digo que dá certo para todo mundo, mas pra mim é útil e me relaxa muito. Tomo uma lata de cerveja antes e só vou levantar no outro dia.”

“Nunca tive problemas pra dormir antes de corrida (…) É um método que comecei a fazer muitos anos atrás. E agora é parte das minhas manias antes de uma competição importante.”

Sou docemente obrigado a concordar com ela. Ontem tomei duas garrafinhas antes de dormir e nem consegui desligar a TV. A única diferença é que hoje não visito o cascalho nem para um recreativo de 50 minutos.

Ah, se fosse quarta

We’re only in it for the money, a propósito

 

 

 

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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