A corrida da Netshoes

Paulo Vieira

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Tudo conspirava contra. Sono de menos, dor na coxa esquerda por conta do fartlek desastrado e os 40K de corrida acumulados de véspera na Estrada dos Romeiros e no aquecimento “long-john” sob a chuva no Villa-Lobos.

Mas compromisso é compromisso, e a Netshoes Fun Race, um curto 6K (e mais uns 400 metros, saberia dolorosamente na hora) na região no Ibirapuera, em São Paulo, mal não ia fazer.

A ideia, disse de mim para mim após voltar do treino em Pirapora, era “trotar”.

Coisa que, para falar bem a verdade, não sei o significa.

Porque toda vez que penso em trotar, ou correr lentamente, meu corpo readquire seu pace normal de corrida. Que já foi mais lento, mas agora anda batendo fácil no 5min/km cravados.

Antes de entrar no estádio Ícaro de Castro Melo, no complexo do ginásio do Ibirapuera, um bom presságio. Um casal se preparava para correr com seu bebê num carrinho. Eu, que precisava descobrir justamente marcas de carrinhos de bebê apropriadas para corrida para uma reportagem da Runner’s, já fui logo abordando o pai.

O carrinho, gringo, da Jeep, tinha manete de freio e fora arrematado no Mercado Livre por R$ 400, uma pechincha.

Dentro do estádio a história (quase) de sempre. Música eletrônica muito alta e tendas de alguns apoiadores bacanas, como a bota suíça de corrida sem impacto Kangoo Jumps. (Saí de lá, aliás, com um canhoto para concorrer a uma delas num sorteio. O meu número é 587157, se adiantar.)

Como foram criadas três largadas em horários diferentes, não havia muvuca na partida. A maior parte dos 4 mil inscritos deve ter optado pela largada das 7h, meia hora antes da minha. Por isso não foi preciso perder tempo logo na saída, que era na pista de atletismo dentro do estádio.

A recompensa vinha mesmo no final/Foto: Divulgação
A recompensa vinha mesmo no final/Foto: Divulgação

O percurso passava pelas avenidas lindeiras ao parque Ibirapuera e finalizava de novo na pista de atletismo.

A palavra trote desapareceu da minha mente durante a corrida, mas não acredito que esteja me tornando vítima de um comportamento que eu mesmo já critiquei aqui, típico do corredor obcecado por metas.

De qualquer forma, levava o Garmin, que apitava a cada 4’30” mais ou menos, meu pace de corrida do dia.

E embora meu resultado geral tenha sido empolgante, sexagésimo lugar num universo de 1 923 homens, não fui aclamado ao entrar no estádio. Meu tempo de 0:28:30 também não vi piscar nos dispositivos eletrônicos colocados pela organização.

Temos falado aqui do estudo dos dinamarqueses que vê o mesmo risco cardíaco para sedentários e esportistas que praticam quatro horas de corrida semanais, mas ninguém fala dos riscos altíssimos de hipotrofia radical do superego que a corrida pode causar.

Já tinha um bom final acima, mas não posso omitir que todos os inscritos levamos para casa uma smartband, uma dessas pulseiras que acompanham o gasto calórico e a qualidade do sono, da empresa All4One. Ela concorre com a Fuelband da Nike, cujo teste pela Talita virou um post best seller do JQC lá dos primórdios. 

A pulseirinha, como brinde de meu parco histórico de provas, só encontra rival na lanterna de cabeça da corrida noturna da Energizer, que me ajuda bastante a ler na cama quando todo mundo em casa já pegou de velho no sono.

 

 

 

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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