Exegeta da nova era

Paulo Vieira

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Colunista da Folha de S.Paulo, apresentador do programa “Navegador”, da Globo News, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, Ronaldo Lemos é uma voz que não se ouve e não se ouvirá nas redações. Basicamente por deter um conhecimento sobre os rumos da internet e da assim chamada sociedade digital que dificilmente um jornalista teria.

Se tivesse, nosso amigo jornalista provavelmente iria querer ganhar dinheiro bem longe das redações.

Com tudo isso, Lemos, veja só, vê algum futuro para o jornalismo, inclusive no Brasil, como se verá a seguir.

Alegrai-vos, camaradas.

Lemos, que é corredor de respeitável comprometimento com o cascalho, respondeu de bate-e-pronto, num domingo à tarde, nossas questões.

Lemos em sua RL
Lemos em sua RL

Jornalistas que Correm – Comecemos pela corrida: qual sua relação com ela? Pratica há tempos, participa de provas, tem metas? Ou a trata com mais informalidade, digamos?

Ronaldo Lemos – Pratico corrida desde adolescente, mas foi nos últimos cinco anos que comecei a levar a prática mais a sério. A corrida faz parte do meu cotidiano: pratico-a 3 a 4 vezes por semana. Minhas metas são sempre de distância e resistência. E claro, sempre com tênis e equipamento apropriado, inclusive filtro solar.

JQC – Onde gosta de correr no Rio? Que lugar apresentaria a um amigo de fora?

Lemos – O Rio tem um calendário farto de provas para quem gosta de correr. Para quem não conhece bem a cidade, há ótimos lugares: a orla, o Aterro do Flamengo, a Lagoa e o Jardim Botânico.

JQC – Um pouco de futurologia: as redações vão continuar murchando? Vê saída no sistema de cobrança “poroso” da Folha ou análogos? Vê a profissão de jornalista em outro lugar, quem sabe nos conteúdos costumizados, com menos independência editorial?

Lemos – As redações estão passando por um período de adaptação que nem sempre é agradável. Cortes de custos e redução do número de profissionais fazem parte das dificuldades trazidas pela internet. No entanto, feitos os ajuste necessários e com alguma dose de inovação, o espaço para o jornalismo tende a se estabilizar e até mesmo a crescer. Há uma busca no mundo todo por novos modelos. E a fusão deles com as fórmulas tradicionais vão abrir avenidas novas para o jornalismo.

JQC – Uma previsão da edição especial anual da The Economist vê o Vale do Silício em 2015 se voltando também para a economia real. Cita o Google como o iniciador do trendy, e aparatos vestíveis e de saúde sendo cada vez mais produzidos. Potentados digitais como Facebook e Twitter devem mesmo ter de diversificar sua atuação para algo menos evanescente?

Lemos – O que vai acontecer é que a internet como a conhecemos hoje vai desaparecer. Ela vai se integrar de forma indissociável às coisas. Vai ser como a eletricidade. Não pensamos muito na eletricidade, exceto quando ela falta. Com isso, as empresas que surgiram no espaço virtual vão se tornar cada vez mais tangíveis e presentes no mundo “real”. A internet vai conectar não só computadores, mas as pessoas e as coisas.

JQC – No Brasil, o jornalismo dependente de crowdfunding, ONGs ou até mesmo de órgãos governamentais simpáticos à “causa” pode ser mais independente do que o tradicional?

Lemos – O que traz independência ao jornalismo é a pluralidade de fontes de financiamento. Nesse sentido, gosto muito dos modelos de crowdfunding, porque levam isso à risca. No entanto, há também o risco de ser ‘populista’ (o grifo é de Lemos) para se viabilizar. De ter de apelar a ideias compartilhadas por apenas alguns grupos bem definidos, pois deles vêm os recursos. Quanto mais um site ou uma empresa diversificar suas fontes de financiamento, reduzindo sua dependência com relação a atores específicos, mais independente vai ser.

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Leia a seguir algumas das entrevistas feitas com outros jornalistas pelo JQC

Carlos Tramontina

Elisabete Pacheco

Marcelo Outeiral

Adriana Negreiros

Sergio Xavier

Ricardo Capriotti

Gesu Bambino

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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