O rio é nosso

Paulo Vieira

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Carolina às margens do Pinheiros
Carolina às margens do Pinheiros

É um paradoxo, mas uma das maneiras mais efetivas de conhecer algo da natureza de São Paulo é estar às margens de seu grande e fétido rio, o Pinheiros. Quem pedala na ciclovia já se acostumou a ver dezenas de capivaras, dos filhotes do tamanho de ratos a adultos que podem vir a ter 100 quilos.

Há ainda garças imaculadamente brancas e os indefectíveis quero-queros. E boiando no rio muitos seres de um reino que não é animal, vegetal ou mineral, mas industrial.

A população de garrafas de plástico ao “nadar” desenha uma linha na superfície da água, como se seres vivos fossem.

Um dos nossos grandes fracassos como brasileiros, quero crer, além da convivência dócil com a desigualdade social, é permitir que nada mude o estado de coisas que mantém um rio dessa importância poluído por décadas e décadas.

Ouço falar da limpeza do Tietê e do Pinheiros, dos repasses a fundo perdido do Banco Mundial e dos japoneses, dos 2 bilhões de dólares necessários e coisa do tipo há pelo menos 30 anos.

E nada.

Belo legado do partido que governa este estado desde a redemocratização.

Mas já que não dá para esperar muito do Governo, organizações da sociedade civil estão se mexendo. Como a Águas Claras do Rio Pinheiros, dirigido por Stela Goldenstein, que já foi secretária estadual e municipal do Meio Ambiente.

Entre outras ações, a entidade chamou o artista Eduardo Srur, que bolou algumas intervenções ao longo do rio, como uma onça gigante bebendo água e um homem num trampolim na Ponte da USP pronto para mergulhar no rio.

Há ainda, em outra vertente, uma linha do tempo muito bacana feita pelo pessoal da revista Superinteressante que conta a história de São Paulo e do rio, grafitada perto da Estação Pinheiros.

Tudo isso pode soar como notícia velha para quem tem o costume de pedalar por ali, mas é também um convite para a conquista de um espaço para quem jamais viu o rio tão de perto.

E ele pode ser inspirador. Que o diga a designer Carolina Ferrez, que inventou um outro projeto pró-rio Pinheiros. Embora a primeira fase desse projeto já tenha sido concluída, vale ver seu caso de amor com o rio.

Mais sobre bicicletas em São Paulo aqui, aqui e aqui.

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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