Onde os sonhos viram realidade?

Paulo Vieira

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Make a wish

Orlando, ou “Disney”, como a maior parte dos brasileiros diz, é a expressão acabada do último lugar que eu gostaria de viver. Esta é uma cidade, para meus padrões, que não existe.

Não existem casas, quarteirões, ruas. São apenas estradas, grandes avenidas, parking lots, malls, Denny’s, Best Buys. Restaurantes estão agrupados em shoppings, sejam eles macros ou micros. Não há exceções, não existe a possibilidade de achar um “lugarzinho” numa caminhada errática. Caminhada? Esta atividade é desconhecida por aqui.

Shuttles, vouchers, táxis, é com isso que você se desloca. Alguém disse aí Brasília? Talvez. Sem o Paranoá, mas com dezenas de pequenos lagos ornamentais.

Claro, aqui estão os parques da Disney e da Universal. E as multidões de turistas em suas filas e em seus restaurantes, com mais filas e talheres de plástico. Mas se você perguntar o que minhas duas filhas, de 8 e 5 anos, estão mais gostando, elas provavelmente irão dizer: dos shoppings.

Não que não tenham gostado do que viram ontem no Magical Kingdom. Mas o sol forte, as filas constantes – em apenas três brinquedos você consegue evitá-las, usando o sistema “fast pass” – e as caminhadas intermináveis as cansaram.

Temos mais três dias de visitas na Disney e planejamos também conhecer a Universal, vamos ver como estará o entusiasmo da tropa ao longo dos dias.

Minha situação atlética é a pior possível. Não que me tenha tornado súbito um Jeff Bridges antes do rehab. Mas como não pego pesado desde quinta passada, a ideia de encarar uma maratona em maio começa a se tornar problemática.

Há uma ou duas horas fiz minha primeira corrida numa dessas “drives” – o nome americano perfeito para “avenida”, pois nelas você só “drive”. Evidentemente não havia uma única pessoa na via sem carro, exceto eu. Chovia, mas isso não importava. Para se ter ideia, nem calçada há. Meti meu tênis minimalista sobre a grama, o que foi bem agradável.

O trajeto: Premium Outlets até meu hotel, o Clarion Lake Buena Vista. Café pequeno, talvez uns 20′ de corrida. Mas como você vai numa “drive”, não há simplesmente nada nem ninguém no caminho para dizer: “Son, you’re completely lost”. Mas eu não estava, e logo vi que já corria na drive do meu hotel.

Julia falou ontem da maratona do Lollapalooza. Acho que estamos ficando monotemáticos. Todos nós, corredores, sabemos que é muito mais fácil cansar num festival de pop e numa semana de Disney do que numa travessia patagônica ou na Comrads.

Mas, peraí, aqui não é o lugar onde os sonhos se tornam realidade? Por que será então que demoram tanto para consertar o cofre eletrônico do meu quarto, que deu pau no segundo dia de uso?

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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