O estandarte vai na frente

Paulo Vieira

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sao-paulino JQC
Dos 10K à Maratona, sempre de uniforme/Foto Mariana Castanho

Ednaldo Almeida é muito conhecido do circuito de corredores de São Paulo, por isso é muito difícil encontrar algo sobre ele em qualquer um dos 1 537 231 blogs de corrida que existem aqui.

Os blogueiros devem achá-lo um tremendo carne de vaca e o ignoram.

É bem verdade que ele é pouco conhecido por seu nome, já que corre com seu apelido: são-paulino.

E ele vai mais longe: corre totalmente paramentado com o uniforme do São Paulo. E ainda carrega uma bandeira do time. Como na música do Ivan Lins, o estandarte vai na frente.

Ele faz cerca de 12 corridas por ano, uma por mês, dos 10K, caso do Circuito das Estações, onde o encontrei domingo passado, aos 42K da Maratona de São Paulo.

Há vinte anos ele corre. A maratona, ele já fez em 3:50’, mas agora está na casa dos 4:10’. No início, disse ao JQC, corria sem bandeira.

Ele gostaria que o São Paulo Futebol Clube ao menos bancasse o uniforme do ano. “Não gosto de correr com o uniforme do ano anterior, mas é caro”, disse.

Pediu ao JQC que tentasse falar com “alguém do marketing” do São Paulo, para ver se arrumava o uniforme. Fica dado o recado.

Se eu fosse fazer o mesmo com o meu time, acho que a diretoria iria aproveitar a ocasião e pedir que eu lhes emprestasse uma grana. E não seria pouca.

JQC – Você faz tempos melhores de corrida hoje?
São-paulino – Não muito, não melhorou muita coisa não. Agora virou marketing, hoje vou na corrida com a bandeira, e a galera se refere à minha pessoa, me coloca como referência, tenta desafiar o São-paulino.

JQC – Não dói muito o ombro (essa bandeira)?
São-paulino – Não, vou revezando. Ponho de um lado, do outro.

JQC – Você usa a bandeira no treino?
São-paulino – Não, uso uniforme normal, só na corrida eu uso a bandeira.

JQC – Por que você escolheu carregar a bandeira de um time, não escolheu uma bandeira ideológica, de alguma causa?
São-paulino –  No inicio era fanatismo, juventude, euforia, os títulos. Eu fiz por fanatismo, depois virou marca, virou referência. Fiz muitas amizades, hoje todo mundo quer ver o São-paulino na corrida, todo mundo quer tirar foto comigo. Virou uma marca pra mim, a galera não conhece o Ednaldo, conhece o São-paulino corredor.

JQC – Algum dia alguém de outro time te incomodou?
São-paulino – Corintianos já me agrediram. Na São Silvestre me deram uma sarrafada, numa outra prova tive que passar escoltado pela PM, pois tinha jogo do Corinthians e eu passava bem na frente. Só não houve coisa pior por causa da escolta e do meu comportar, sou muito do bem, não revido as criticas, levo tudo na esportiva.

JQC – Na São Silvestre, os caras que te deram a sarrafada eram corredores?
São-paulino – Não, eram torcedores, eram da Gaviões. Eles sempre ficam parados num ponto, e eu fui brincar com um deles, achei que ele iria reagir na brincadeira, mas ele sentou o bambu.

JQC – Qual foi sua reação, sair fora?
São-paulino  – A minha reação foi: ‘Quanto mais perna, melhor pra correr”.

JQC – Você vai a jogos do São Paulo?
São-paulino – Eu ia, mas hoje não frequento mais. Até um tempo atrás eu ia a todos os jogos da semana, depois construí minha família. Eu prefiro o leite das crianças e o dinheiro da inscrição da corrida.

JQC – Você expressa seu amor pelo time nas corridas?
São-paulino –  É. Aqui eu encontro corintiano, palmeirense, todo mundo me abraça. Se eu for vestido assim ao estádio, vai passar torcida, vai me agredir.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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