Bradicardia, eu te amo

Paulo Vieira

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Jornalistas que Correm e a bradicardia sinusal
Bradicardia sinusal, eu quero uma pra viver

Fazer generalizações generacionais não é comigo, mas é ao que vou me dedicar neste exato momento. Com tantos franco-atiradores em atividade na internet, expor uma especulação não vai me fazer melhor ou pior. Nem diferente, para contradizer o slogan de uma subtorcida da Portuguesa. Minha geração teve a sorte ou o azar de ser mais cética do que militante, mais descrente do que romântica, mais “Mad Max” do que Shirley McLaine depois dos 50.

Por isso, é estranho para muita gente, e também para mim, que eu tenha me tornado um “vocero” da corrida.

Mas quem me leu ou quem for me ler em retrospecto irá notar que aqui e ali falo também dos malefícios da corrida, algo que chega quase a ser tabu. Corrida faz bem, emagrece, dá incrível disposição, alegra, mas também vicia, machuca, torna as conversas monotemáticas e também mata, mata anônimos em tantas competições por aí e mata famosos, caso de um arauto da corrida, o norte-americano James Fixx, autor do best-seller “Guia Completo da Corrida”.

A lição a ser tirada aqui é que deixar para depois a avaliação cardiorrespiratória é fria. Eu fiz apenas minha segunda em dez anos de corridas irregulares, e, felizmente, esta trouxe resultados animadores. Tenho a tal “bradicardia sinusal”, quando o coração em repouso bate menos de 60 vezes por minuto – cravei 49 num eletro de outubro. A “anomalia” é comum em atletas de resistência. Ocorre um aumento do volume cardíaco e capacidade maior de bombeamento de sangue com menos esforço – até 40% mais do que o de um sedentário.

Fiz também um daqueles teste espirométricos, em que você só respira pela boca, numa máscara, e essa foi uma das sensações mais claustrofóbicas da minha vida. Fiquei apenas 11’05” na esteira e pedi literalmente para sair. O resultado, segundo minha médica, foi bom: um V02 máximo de 151% do que é indicado para meus singelos 46 anos e 79 quilos.

Como tudo isso depende de interpretações mais abalizadas, não vou me estender. Serve como preâmbulo para dizer que sigo na iminência de correr minha primeira maratona e não vou por o pé no freio quando as montanhas de Cunha, o Pico do Jaraguá e a Subida da Biologia emitirem seus pios maviosos de nightingale.

Mas também não pretendo deixar de consumir aquelas belezinhas que eu trouxe do México e de Cumbica: uma garrafa de raicilla (uma tequila com uma destilação a menos, para profissionais), meia-dúzia de Red Label e três portugueses que custam uma fábula nos supermercados.

“Gilberto, eu te amo”, disse o Flavio Gomes quando o ponta-de-lança rubro-verde fez aquele hat trick no Corinthians umas rodadas atrás. Eu o parafraseio: “Bradicardia, eu te amo.”

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Hiraides

    Querido..
    Eu que te amo!!!
    Estava já eu,quase agonizando com o tal diagnostico….
    Li mesmo coisas que me assustaram…e agora?!!
    Agora estou suave, vou continuar com minhas atividades e cuidados mas nada muito na “Neura”
    Grataaaaaaaaa

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