Um jornalista que corre em Fortaleza

Paulo Vieira

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São Paulo voltou a ter seus dias padrão de inverno: frios bem cedo e quentes na hora do almoço e à tarde. Em comparação a Fortaleza, onde passei estes últimos dias, contudo, vivemos a Nova Era Glacial.

É tudo verdade o que dizem. Lá o sol é companheiro assíduo e a aposta que se estará sob temperatura de 30 graus todos os dias de ano paga 1 pra 1. Com isso, ou eu acordava com as galinhas ou deixava para correr de noite, no meio da muvuca.

Fiquei com a segunda.

O problema lá e que não há pista apropriada. Para se correr pela orla, ou você vai na rua, junto ao meio-fio, ou no calçadão, entre os transeuntes que se agitam, os vendedores de DVD e outros corredores. Ou pela areia, que é fofa demais. Entre ir voltar do Mucuripe ao Dragão do Mar, esse é outro problema, são no máximo 10k. Então eu decidi incrementar um pouco o roteiro e estiquei à Praia do Futuro.

Fortaleza, o Ceará, bem dizendo, é um estado que usa bem seu potencial turístico. Com o sol como garantia e praias lindas, não há um dia em que dezenas, centenas talvez, de vans, micro-ônibus, bugues e carros de aluguel não estejam recolhendo turistas pelos hotéis e levando a pontos mais distantes. Por isso eu fico perplexo ao ver que, passando o Iate Clube e a entrada para o porto de Mucuripe, no caminho para a Praia do Futuro, haja uma refinaria de petróleo.

Ela está lá desde os anos 60, muito antes do turismo, produzindo lubrificantes e asfalto. Com ela todos aqueles caminhões enormes que, aliás, atravancam o trânsito da orla. Com isso, minha corrida, ao deixar a muvuca, ganhou um cenário de cidade fantasma, meio Cubatão, meio Vicente de Carvalho, um troço bem sombrio. Como era noite e não tinha caranguejada, não avancei muito pelo Futuro, dei meia-volta e terminei a corrida de volta à divisa de Iracema com Meirelles, perto do píer. Tudo em 1:42′.

foto-11Muito antes de chegar à refinaria, na ida, comecei a sentir um incômodo na sola do pé esquerdo. Corria com meu Vibram minimalista de velejador e sem meia. O que parecia uma pedra era uma bolha na linha do dedão no antepé. Deu para terminar a corrida, mas desde sábado estou no estaleiro. Nada que empane os bons recuerdos de Fortaleza. Se algum fortalezense me lê, fique sabendo que já aceito convites pra voltar, desta vez pra esticar até Porto das Dunas, passar pela ponte que demorou 10 anos pra ficar pronta, pegar aquela terra toda que vem depois e terminar descendo um tobogã no Beach Park.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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